sábado, 26 de setembro de 2009

Nothing but a Song

Nada além de uma Canção

Acordei hoje com um homem falando no rádio, dizendo que nós fomos abençoados com o primeiro dia de primavera mais magnifico que ele já vira. Lá fora, os pássaros cantavam, as crianças desde cedo brincavam e quando olhávamos pela janela, podíamos ver a claridade da manhã desenhando a linha do horizonte. Mas, eu não estava me importando com nada disso, não conseguia pensar em mais nada, a não ser na última semana que passei trabalhando, em Boston. Me lembro muito bem, estava frio, ainda era inverno, pela janela do hotel podia ver as pessoas agasalhadas, tomando chocolate quente no parque, ou indo trabalhar apressados. Não tive muito tempo para admirar a bela paisagem, o telefone logo tocou, era a recepcionista do hotel, dizendo que bem cedo, um homem estivera lá e deixara um recado; escutei com muita atenção, era uma voz grossa, no entanto meio rouca. Eu já ouvira aquela voz, em algum lugar. E me confortei ao ouví-la: 'Sam, não sei se você vai lembrar de mim, provavelmente não. É o Edu, fizemos faculdade juntos. Me disseram que você estava hospedada na cidade, neste hotel, trabalhando por uns tempos. Eu estava passando por aqui então, pensei: como será que a Sam está? Não conversamos faz tempo. Então resolvi passar pra dar um oi, a moça foi muito gentil e disse que você estava dormindo mas que daria o meu recado.' Apertei o pause. Nossa, o Edu é como eu lembrava. Enrolado com as palavras, como sempre foi. Retornei a ouvir. 'Então resolvi te convidar para sair, talvez tomar um café, relembrar os velhos tempos. Se quiser me liga, tá? É isso, é, acho que sim. Tchau, Sam.' Meu coração disparou, não sei porque mas de repente me vi rindo a toa, numa felicidade boba, mas gostosa. Retornei a ligação de imediato. Marcamos de sair na mesma noite, me levou a uma danceteria bem bacana. Dançamos, conversamos, rimos muito. O tempo nos ajudou muito, ele estava lindo e eu, bem, dá pra se dizer que eu estava melhor que antes. Me levou para o hotel, mas não subiu. Ficamos conversando na entrada, até a recepcionista aparecer e pedir para entrar, pois o segurança precisava fechar tudo. Nos despedimos e marcamos um outro encontro. Eu nunca estive tão nervosa, não tinha mais certeza de nada, só que eu o veria e estava muito feliz com isso. A campainha tocou, me deu uma sensação estranha, como borboletas na barriga. Mas, eu gostei! Fomos jantar, ele me chamou para dançar, dançamos várias músicas até eu tomar coragem e dizer a ele que no dia seguinte, bem cedo, eu iria embora da cidade, de volta a Nova Iorque. Me olhou, desapontado. Fiquei super triste, mas ele encostou sua mão no meu queixo, o ergueu e me deu um beijo, ele não dançava muito bem, eu não ligava. Contanto que ele estivesse ali comigo, não me importava. Voltamos para o hotel, me deu outro beijo e disse: Sam, a noite foi ótima, é uma pena você ter que ir. Por favor, fique.' Meu coração apertou, eu adoraria, mas não poderia. Minha vida não era ali. Entrei, arrumei minhas malas, e uma sensação de vazio tomou conta do meu coração. Eu queria me convencer de que ele não era nada além de uma canção, que por mais encantadora que fosse e que por mais viciada que me deixasse, querendo cada vez ouvir mais e mais; viriam outras, um dia eu esqueceria. Se tornaria velha, e outra tomaria o seu lugar. Mas no fundo, algo me confortava, eu sabia que melodia como aquela, nunca se esquecia. E que mais cedo ou mais tarde, nos encontraríamos novamente.
Publicar um texto é um jeito educado de dizer “me empresta seu peito porque a dor não tá cabendo só no meu”. (Tati Bernardi)